Dario Birolini é professor emérito da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Foi o introdutor, na década de 1980, do ATLS no Brasil – uma sigla que significa Advanced Trauma Life Support. Este curso, juntamente com o ACLS – Advanced Cardiovascular Life Support, são essenciais para a formação do médico, principalmente aquele que trabalha em emergências, UTIs e pronto socorro.
Atualmente existem várias instituições no país que oferecem os cursos. Estes cursos são de curta duração e já treinaram milhares de médicos a ter uma abordagem lúcida e harmoniosa em situações clínicas de muita gravidade, como o infarto, a parada cardíaca e traumas extensos, com risco de morte. O Dr. Dario é conhecido por sua habilidade cirúrgica, liderança e profundo conhecimento da prática médica. No final de sua brilhante carreira, ele simpatizou com o Dr. Marco Bobbio, cardiologista e atual presidente da Associaçõo Italiana de Slow Medicine, hoje Slow Medicine ETS – uma organização do terceiro setor - autor dos livros “O Doente Imaginado” e “Medicina Demais”’.
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O Prof. Dario identificou-se com as ideias do Dr. Marco, que se configuravam em um ideário chamado Slow Medicine, com a proposição de uma medicina Sóbria, Respeitosa e Justa. A Slow Medicine era uma vertente do Movimento Slow, que teve seu início com o Movimento Slow Food, também nascido na Itália. O Professor Dario Birolini organizou a tradução do livro “O Doente Imaginado” para a língua portuguesa e, por ocasião de sua publicação, ocorreu o primeiro périplo do Dr. Bobbio no Brasil, que proferiu palestras em várias capitais brasileiras, e tendo sido, à ocasião, entrevistado pelas páginas amarelas da Revista Veja.
Quem viveu esta época lembrará que as páginas amarelas procuravam divulgar o pensamento de expoentes da cultura, da política e da ciência, no Brasil e no mundo. Bem, um dos pilares da Slow Medicine, é a relação médico paciente, a relação clínica, termo mais abrangente, criado pelo psiquiatra e bioeticista espanhol Diego Gracia, que amplia o cuidado do paciente para um olhar multidisciplinar e inclusivo.
Relação médico-paciente
O Dr. Dario Birolini, em um vídeo que pode ser acessado no canal do Movimento Slow Medicine no YouTube, afirma que “a relação médico-paciente é o fulcro da prática médica. Sem relação médico-paciente, não existe Medicina, existe negócio”.
Convidado pela Professora Léris Bonfanti Haeffner, coordenadora do curso de Medicina da UFN – Universidade Franciscana, tive a oportunidade de fazer parte do corpo docente da Disciplina de Relação Médico-Paciente. E isso é um grande diferencial. A disciplina coloca-se na contramão de uma Medicina cada vez mais calcada em tecnologia, praticada em grandes corporações, onde o médico muitas vezes passa a fazer parte do sistema como mais uma peça da engrenagem. Anônimos, nem médico, nem paciente se conhecem e as relações são institucionais: os convênios, os hospitais, os laboratórios, as clínicas, mormente no setor privado da saúde. A existência de uma disciplina de Relação Médico-Paciente na graduação, ainda não mandatória nos currículos, pode trazer um grande diferencial na formação do futuro médico. A disciplina propõe uma reflexão e um outro olhar para o encontro do médico com seu paciente, sublinhando a necessidade do estabelecimento de uma conexão entre estas duas pessoas, uma no papel de cuidador e a outra, como recipiente deste cuidado. Uma relação que tenda à horizontalidade, contrapondo-se à uma visão verticalizada, onde um é detentor do saber e o outro, o receptor, sem um papel ativo em seu próprio cuidado, o que se choca contra o princípio bioético da autonomia.
A participação nas decisões que concernem à sua saúde deve ser estimulada, através de uma informação adequada e cuidadosa, tornando o paciente sujeito de seu tratamento e, desta forma, corresponsável pelas ações relacionadas à sua saúde, que passa a respeitar sua individualidade, escolhas e expectativas. A comunicação é uma ferramenta fundamental para o estabelecimento de uma relação clínica vigorosa, cujo foco está na tomada das melhores decisões relativas aos processos patológicos que a pessoa enfrenta.
Confiança e respeito
Em Geriatria, a relação médico-paciente deve ocupar o centro do cuidado. A pessoa idosa necessita desta relação de confiança com seu médico, que visa a longitudinalidade, o acompanhamento clínico à longo prazo, pois é a maneira mais adequada para que se estabeleça um relacionamento médico-paciente permeado pela confiança e pelo respeito. Melhores resultados terapêuticos poderão advir desta prática.
Levando em conta a delicadeza da situação da pessoa idosa, um vínculo forte com seu médico pode facilitar seu cotidiano e permitir uma melhor qualidade de vida. Relação não pautada no etarismo ainda vigente no olhar de alguns profissionais da saúde em relação às pessoas idosas. Ainda não foram descobertas outras técnicas que pudessem substituir a Semiologia Médica na formulação de hipóteses diagnósticas e na tomada de medidas terapêuticas ou de diagnose complementar, de forma racional e ponderada. E este primeiro contato com o paciente é o que inicia a consolidação deste tão necessário relacionamento entre o médico e seus pacientes idosos.